João Paulo Pacifico, CEO do Grupo Gaia, destaca os desafios de liderar no home office e conta como mantem o engajamento, motivação e alinhamento da equipe durante esse período.
Certamente ninguém acreditaria se em janeiro de 2020 alguém falasse que os líderes teriam que lidar com as seguintes condições:
todos de forma remota
crise econômica / desemprego
maior pandemia de nossas vidas
incertezas e
aulas online (para quem tem filhos)
Mas aí veio março de 2020... estávamos prontos para levar todos os Gaianos e Gaianas pelo segundo ano consecutivo para a Disney, quando 12 horas antes do embarque resolvemos cancelar. Imagine a frustração. Mas o que veio a seguir foram muitos aprendizados que irei compartilhar.
Diante disso, como fazer para motivar, engajar, produzir e continuar vivendo no meio desse caos?
A resposta caberia em um livro ou até em um curso de pós graduação, mas me proponho a ser direto e prático, trazendo quatro dicas que você pode aplicar a partir de hoje.
1. Quanto você está se cuidando?
Cuide de você e dos que te cercam. A pressão externa às vezes é muito grande, assim como as obrigações de casa. Cuide de sua saúde mental, medite, faça exercícios, se alimente de forma saudável.
Dê atenção a sua família, entenda que seus filhos/as tiveram suas vidas viradas do avesso. Por isso, não adianta ficar os pressionando.
Manter a paz em si e dentro de casa é um exercício diário e importante para um líder.
No começo foi super desafiador para mim, ao lidar com as aulas online das minhas duas filhas (4 e 7 anos), mas fomos encaixando as rotinas, mantendo um clima leve em casa. Mantive ao máximo que pude a minha meditação e nos últimos dias voltei a correr (com máscara). Isso tem me ajudado muito.
Reflita nesse momento, de 0 a 10 quanto você está cuidando de você (sendo 10 o máximo que consiga nesse momento), e o que deve fazer para aumentar esse nível.
2. Ouça, acolha e apoie
A ação única mais eficaz para um líder é ouvir.
A escuta ativa consiste em dar atenção genuína para a outra pessoa sem a julgar.
Em seguida, acolha. Todo ser humano gosta de ser acolhido, de se sentir querido e importante para alguém, isso traz segurança mental e melhora muito o bem- estar individual e coletivo (da relação).
Após acolher, apoie a pessoa para que consiga atingir seus objetivos.
Isso é tão importante, que decidi transformar em um ritual semanal. Passei a marcar papos de 30min a 60 min com pessoas da empresa para ouvir. Mesmo com aquelas que não trabalham diretamente comigo. Isso ajudou demais a enxergar coisas que não estava vendo e a acolher e apoiar cada um.
Reflita em relação a cada um da sua equipe, o quanto você tem ouvido essa pessoa, acolhido e apoiado. E o que pode fazer para melhorar esses pontos.
3. Divirta
Você não precisa ser a pessoa mais engraçada do mundo. Mas, mesmo a distância, crie momentos de diversão, descontração.
Na Gaia, fizemos pizzada, amigo secreto, show de talentos e tantas outras coisas que nos aproximaram socialmente, apesar da distância física. Ao se divertir, esquecemos os problemas e nos energizamos para lidar melhor com os desafios da vida.
4. Mantenha o espírito de equipe
A distância física torna o trabalho muito mais solitário. Para manter o espírito de equipe, durante as primeiras semanas fizemos papos diários com toda a empresa. Sempre em um clima leve e divertido.
Nesse período passamos por momentos mais difíceis, como quando um Gaiano estava internado com COVID e pneumonia, ou no falecimento de parentes dos colaboradores. Em alguns momentos fizemos grupos de orações voluntários, em outros dedicamos um minuto de silêncio, sempre respeitando e acolhendo.
Com o andar dos meses, mudamos a dinâmica e criamos 3 reuniões gerais. Segunda feira, os líderes falam para todos as prioridades da semana, e na sexta as evoluções. Nas quartas fazemos o Gaia Talk, onde abordamos as causas que o Grupo Gaia apoia (redução da desigualdade, mudanças climáticas e felicidade), trazemos convidados de fora ou fazemos apresentações internas.
Por incrível que pareça, essas dinâmicas nos fortaleceram como grupo e cultura. Pessoas que moram em cidades diferentes (temos gente em São Paulo, Pira e Salvador) passaram a se conhecer melhor e até desenvolveram amizades.
A pandemia tem sido um grande desafio individual e coletivo para a humanidade. Várias das práticas e aprendizados que listei acima irão permanecer quando tudo isso passar. E quanto melhor os líderes puderem encarar esse momento, mais fortes estaremos como indivíduos e como sociedade.
Mas diante de tantas mudanças, como será o Futuro?
Não tenho essa resposta. Mas imagino o futuro que construiremos pra Gaia.
Muitas empresas falam de adotar o home office em definitivo. Essa não será a nossa escolha. Podemos construir um modelo híbrido, após descobrir os benefícios do home office como produtividade, menos trânsito, maior convivência com a família... Além da descoberta que reuniões online realmente funcionam.
Mas... a VIDA não funciona online.
O olhar acolhedor, o sorriso, o abraço, a brincadeira...Elas não têm o mesmo valor online. E nossa cultura sempre foi baseada na força das relações humanas.
Ainda se seu viés for APENAS a produtividade... Quantas ideias, projetos e soluções nascem de uma conversa no café, de um pensamento em voz alta, ou de uma troca de ideia informal?
O que mais as pessoas sentiram falta na quarentena foi de sair, encontrar as pessoas e se divertir. Se o trabalho também proporciona tudo isso, e ainda produtividade, por que escolher apenas ficar em casa?