Encontrei no dicionario a seguinte definição:
DES-EN-GA-JA-MEN-TO - Liberar(-se) de engajamento, contrato, compromisso; desobrigar(-se), desvincular(-se). Perder o comprometimento com algo.
Esse é o assunto do momento, mas com um nome mais rebuscado, QUIET QUITTING. Importante entender o que isso exatamente significa para que possamos assim, buscar minimizar os impactos tanto para as pessoas envolvidas como para as organizações.
Essas pessoas rejeitam que o trabalho seja o foco central de suas vidas, e portanto entendem que não vale à pena dar o "sangue", "vestir a camisa", e portanto, entregam o combinado dentro do tempo estipulado. Movimento já vem sendo estudado desde os anos 2000, mas sendo analisado pela ótica do ENGAJAMENTO.
Em 2013 a Gallup apresentou um estudo que levou 12 anos, entrevistando mais de 25 milhões de trabalhadores em 143 países ao redor do planeta.
Os empregados foram dividindo em três grupos:
- Ativamente Desengajados: os funcionários não estão apenas insatisfeitos no trabalho, eles estão ocupados representando sua infelicidade. Todos os dias, esses trabalhadores minam o que seus colegas de trabalho engajados realizam. Representavam 18% da média de trabalhadores.
- Desengajados (Quiet Quitters): Já falamos deles aqui... representavam 57%.
- Engajados: os funcionários trabalham com paixão e sentem uma conexão profunda com a empresa. Eles impulsionam a inovação e levam a organização adiante. representavam 25%.
Nesse estudo, o que mais me chamou atenção, foi a relação da LIDERANÇA, ou a falta dela, com os baixos índices de engajamento.
Passados 10 anos, li o relatório de 2022, e para minha surpresa, o que observamos foi praticamente o mesmo resultado.
O desengajamento passou a atingir 60%, o desengajamento ativo, 19% e os engajados reduziram para apenas 21%. Estima-se que esse baixo engajamento custe aproximadamente U$ 7,8 trilhões para os cofres das organizações.
A carga excessiva de trabalho (horas), falta de clareza nos objetivos, comunicação pobre por parte das lideranças, falta de apoio e a pressão "irracional" (traduzi o termo literalmente), são os motivos apontados pelos entrevistados que fazem o trabalho ruim, trazendo uma sensação de injustiça.
Note que todos os 5 pontos estão relacionados à gestão. Em uma nota de rodapé da pesquisa, um dado interessante, 70% da variação de engajamento está relacionado à gestão.
Ou seja, somente uma liderança preparada, capaz de criar conexões verdadeiras com seus liderados, lhe dando atenção, criando assim um ambiente seguro, poderão transformar esses resultados.
E para comprovar esse raciocínio, em 31/08, em artigo publicado na Harvard Business Review, Jack Zenger e Joe Folkman apresentam um resumo de dados coletados de 2020, de 2.801 gerentes avaliados por 13.048 subordinados diretos. Em média, cada gerente foi avaliado por cinco subordinados diretos e foram comparados dois pontos de dados:
- Classificações dos funcionários sobre a capacidade de seu gerente de “equilibrar a obtenção de resultados com a preocupação com as necessidades dos outros”.
- Classificações dos funcionários sobre até que ponto seu “ambiente de trabalho é um lugar onde as pessoas querem ir além”.
O gráfico abaixo mostra os resultados:
Os gerentes menos eficazes têm três a quatro vezes mais pessoas que se enquadram na categoria “quiet quitting” em comparação com os líderes mais eficazes. Esses gerentes tiveram 14% de seus subordinados diretos desengajados e apenas 20% estavam engajados. Mas aqueles que foram mais bem avaliados em equilibrar resultados com relacionamentos viram 62% de seus subordinados diretos dispostos a fazer um esforço extra, e apenas 3% desengajados.
Empresas com equipes engajadas conseguem aumentar suas receitas, reduzem o absenteísmo, turnover, acidentes, e aumentam a fidelização de clientes.
É um tema de extrema urgência. Não só para a saúde das pessoas, pois esse movimento não é benéfico pra ninguém. Traz angustia, estresse e desmotivação, além de problemas psicológicos graves.
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) apresentou uma pesquisa em 2021, que trabalhar mais que 55 horas aumenta em 35% as chances de um AVC e em 17% em isquemia cardíaca, estimando que em 2016, 745 mil pessoas tenham sofridos problemas cardíacos por esse motivo.
O International Stress Management Association (ISMA-BR), em relatório apresentado em 2021, estima-se que o Brasil possuí 32% dos seus trabalhadores, totalizando mais de 33 milhões de cidadãos, sofram de Burnout.
A Síndrome de Burnout foi oficializada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS, ANO) como uma síndrome crônica. Como se trata de um “fenômeno ligado ao trabalho”, a OMS incluiu o Burnout na nova Classificação Internacional de Doenças (CID11).
Esses são os resultados de viver uma vida assim, esperando o dia passar rápido, esperando a hora de ir pra casa. Fazendo uma estimativa, passaremos 81.396 horas trabalhando ao longo da vida, a única coisa que faremos mais que isso, será dormir, portanto, é de fundamental importância que, se vocês aderiu a esse movimento, busque encontrar o beneficio do que você faz, trazendo um sentido maior para o seu trabalho, melhor se relacionando com ele. Busque se conhecer melhor, entender suas habilidades e porque não, encontrar PROPÓSITO.
Agora, se você está em posição de liderança, deixe de apontar o dedo para essas pessoas como se elas fossem preguiçosas, desmotivadas e frutos de uma geração "mimimi", as pesquisas mostram o contrario, e nos orientam a olhar mais para nossas relações com as equipes e como as tratamos, fica evidente que as pessoas querem entregar mais, querem engajar, mas o líder, precisa antes de tudo, MERECER!