Essa semana me peguei em
uma das encruzilhadas da vida. Indo para o trabalho, no mesmo caminho que faço
quase todos os dias pela manhã, parei em um semáforo onde havia uma senhora. De
muletas e sem uma das pernas, pedia ajuda aos que paravam por ali. Já havia a
visto por ali, pois está sempre no mesmo local pelas manhãs. Gentilmente abri a
janela para falar com ela, e disse que “não tinha nada”. O farol abriu e segui
rumo ao trabalho.
Em meu caminho, fiquei
pensando qual de nós dois realmente não tinha nada. Afinal, eu tinha acabado de
sair de casa após uma boa noite de sono, tomado o meu café da manhã e estava
confortável dentro do
meu carro com ar condicionado. Já ela, pedia alguns trocados
logo cedo pela manhã, lutando por sua sobrevivência ou pelo menos para que
conseguisse comer algo ao longo do dia.
Fico imaginando quantas
respostas como essa ela recebeu ao longo do dia. Provavelmente a maior parte das
pessoas, de dentro de seus carros com a janela fechada, com medo ou receio de
ao menos dar uma resposta educada ou mostrar um pouco de empatia com sua
condição de subsistência.
Qual de nós dois não
tinha nada mesmo? Fácil a resposta né? Vida que segue na triste e comum realidade
da nossa metrópole.
Faço uma pausa poética
aqui e trago o assunto para o campo da nossa vida profissional. Quantas vezes
nos pegamos em posições privilegiadas de liderança e dizemos que “não temos
nada”ou “nada podemos fazer” por aqueles que estão embaixo de nós? Quantos
desligamentos já vi sendo feitos sem que fosse ao menos dada uma explicação
condizente, honesta e transparente por quem estava em uma situação
privilegiada?
Mas nem sempre os jogos
corporativos são tão claros. Quantas vezes fechamos a nossa janela para àqueles
que estão com dificuldades ou passando por um momento turbulento? Mais fácil
desligar e seguir nosso caminho, não é mesmo? Cuidar do outro e da equipe é uma
premissa para quem assume papel de liderança. Fazer pelo outro e para o outro,
se doar e estar pronto para estender a mão sempre que preciso.
Cargos são temporários e
títulos são provisórios. Mas a maneira como tratamos as pessoas é o que nos faz
sermos lembrados. Principalmente para nossa equipe. Como ajudamos,
desenvolvemos ou impulsionamos carreiras de quem está a nossa volta. Como
impactamos a vida de quem nos cerca é o que deveria definir “liderar com
sucesso”.
Quais oportunidades reais
temos criado para nossos times? O quanto realmente temos procurado se interessar
pelos problemas e dificuldades do outro? Quanto tempo estamos disponibilizando
para que nossos times desenvolvam autoconsciência e ganhem autonomia?
Em tempos em que as redes
sociais impactam profundamente o modo como vivemos e relacionamo-nos, trazendo-nos
a todo instante referências de uma vida perfeita, homogeneizando a definição de
sucesso, é preciso lembrar que cuidar do próximo pode nos fazer um bem enorme. Sucesso
é quando nos sentimos bem com as nossas conquistas pessoais, sem importar o tamanho
delas. Não pode medi-lo. Muito menos vendê-lo como produto ou como receita
de bolo.
Um bom dia ou ouvir um
pouco quem precisa de ajuda, já é um bom começo. Para o padrão de sucesso do
Linkedin ou a vida fantasiosa do Instagram, sigo dizendo “não tenho nada”!
#EMFRENTE!