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O que são as Forças de Caráter e como utilizá-las para promover a Felicidade Corporativa?

O que são as Forças de Caráter e como utilizá-las para promover a Felicidade Corporativa?
Cintia Suplicy
Nov. 9 - 14 min read
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No início dos anos 1999 quando a Psicologia Positiva já havia dado seus primeiros passos nos estudos formais da Felicidade, Martin Seligman, considerado o pai desta ciência, recebeu um pedido de Neal Mayerson, que queria investigar se o caráter influenciava na felicidade dos jovens. Foi o início de um estudo, comandado por Seligman e Christofer Peterson, que culminou em um dos alicerces da Psicologia Positiva: as Forças de Caráter.

O estudo durou 3 anos, contou com 55 pesquisadores e foi realizado em mais de 50 países. Foram estudados mais de 2.500 anos de história, filosofia, comportamento religião e cultura e foram realizadas inúmeras pesquisas para entender como classificar, identificar e medir traços de caráter positivos universais.

Eles chegaram a 6 virtudes humanas, comuns a quase todas as culturas, e 24 forças de caráter, consideradas ingredientes psicológicos e um caminho para as virtudes.

Desde então, vários benefícios do uso das forças de caráter têm sido encontrados: aumento do bem estar e satisfação com a vida, crescimento pessoal, melhora na performance, na criatividade, nos relacionamentos, um ótimo funcionamento do indivíduo, diminuindo, inclusive, sintomas de depressão e ansiedade, dentre outras descobertas científicas.

O que são as Forças de Caráter?

São traços positivos que possuímos e que refletem a nossa forma de sentir, pensar e nos comportar no mundo.

Conhecer as Forças de Caráter exige muito estudo, prática e observação, de si e do outro.

Vamos entender mais...

Nós temos o que a ciência chama de viés negativo, algo como um certo conforto e uma tendência à negatividade, ao pessimismo, a olhar o que não está bom, ou para o que precisamos consertar em nós, no outro e no mundo. Este viés é também responsável pelo nosso lado crítico e cético.

E esta tendência natural nos protege dos perigos da vida desde a nossa ancestralidade. Por isso está tão presente em nós. Se temos 100 x mais chance de algo dar certo e 1 chance de dar errado, a nossa atenção, na maioria das vezes, é voltada para o que pode dar errado, despertando o nosso lado mais primitivo, que culmina em um comportamento de luta ou fuga. Somos tomados por um medo, muitas vezes, desproporcional, que nos paralisa em alguns momentos ou nos faz entrar em conflito.

E qual é o problema de ser um pouco pessimista ou querer melhorar o que eu preciso em mim e no mundo?

Se este não for o seu padrão de pensamento, nenhum. O problema surge quando ele traz prejuízos para a sua vida e para a sua saúde. Sim, porque o foco constante no que pode dar errado prejudica a sua saúde e bem estar físico e emocional.

Vivemos em uma cultura que estimula, desde a infância, a competitividade, fazendo-nos acreditar que temos que ser melhores que os outros para nos sentirmos especiais. E esta crença gera um sentimento de comparação e invariavelmente, o sentimento de nunca sermos bons o bastante (sempre terá alguém melhor que nós). Nossas qualidades foram reprimidas ou abafadas por este pensamento, pelos rótulos colocados pelos outros ou por acontecimentos da vida.

E não aprendemos a valorizá-las porque muitas vezes os outros não conseguiram enxergá-las como algo bom ou pelo simples fato de não termos sido ensinados a enxergar o nosso lado bom.

Algumas de nossas qualidades ou forças podem ter sido vistas pelos outros, em algum momento, como algo ruim, que atrapalha, que constrange ou que incomoda: sabe aquela pessoa bem humorada que vive fazendo piada e que acaba sendo rotulada como inconveniente? Ou aquela pessoa mais cuidadosa que acaba não se encaixando em um grupo de pessoas que se arriscam mais do que ela? Ou então aquele aluno entusiasmado que incomoda os professores pelo excesso de energia e conversas paralelas nas aulas?

É comum estes e outros tipos de comportamento serem reprimidos na infância ou na vida adulta, por não sabemos lidar com o diferente. Isso é tão verdade que, segundo um estudo da Universidade Albert Ludwigs (Breisgau, Alemanha), julgamos as pessoas milissegundos depois de conhecê-las. Ou seja: nem sequer damos o benefício de uma experiência com as pessoas para depois tirarmos conclusões.

E pior, além de desvalorizar as nossas qualidades, algumas pessoas parecem gostar de dar conselhos e através deles, tentam, a todo custo, nos mostrar que seríamos melhores se fôssemos desta ou de outra forma. A maioria de nós faz isso. Temos uma certa exigência de "encaixar" o outro dentro do nosso quadrado, achando que o outro deve pensar e agir como pensamos. O contrário disso causa estranhamento. Aprendemos, criamos e replicamos esta forma de atuar e pensar sobre as pessoas. Sair deste emaranhado é realmente difícil.

Conhecer as nossas forças de caráter e reconhecer as forças nos outros é na verdade, uma mudança de valores e até de cultura. A ideia é: julgar menos, valorizar mais. Focar menos no que não queremos e mais no que queremos construir. Valorizar o que já temos de bom e o que o outro tem também ao invés de ficar todo tempo querendo melhorar ou consertar.

E como podemos aplicar as Forças de Caráter para promover a Felicidade Corporativa?

Primeiro, é importante conhecer as 6 Virtudes Humanas e as 24 Forças de Caráter (Fonte: VIA Institute On Character)

- Virtude Sabedoria e Conhecimento

É uma virtude que facilita o caminho do conhecimento. Tem como principais forças a criatividade, curiosidade, julgamento, amor ao aprendizado e perspectiva.

- Virtude da Transcendência

Compõe as Forças que nos ajudam na conexão com o universo, promovendo significado e propósito. São elas: Apreciação da Beleza e da Excelência, Gratidão, Esperança, Humor e Espiritualidade.

- Virtude da Coragem

Descreve as Forças que nos ajudam frente às adversidades: Bravura e valentia, Integridade, Perseverança e Entusiasmo. 

- Virtude da Justiça

É uma virtude que nos ajuda na conexão e convívio em grupos e comunidade. É composta pelas forças: Imparcialidade, Liderança e Trabalho em Equipe.

- Virtude da Temperança

É composta pelas forças que nos ajudam a nos proteger contra os excessos e na moderação: Perdão, Humildade, Prudência e Auto-regulação.

- Virtude da Humanidade

Descreve as forças que se manifestam no cuidado das relações com os outros e consigo mesmo. São elas: Generosidade, Amor e Inteligência Social.

E no Trabalho, como podemos utilizar?

Todas as forças importam, o que quer dizer que todas as pessoas importam e precisam ser valorizadas pelo que elas são. A empresa que consegue enxergar o melhor das pessoas, consegue aproveitar o que elas já têm de bom, que é, na verdade, a sua identidade. As pessoas funcionam na sua melhor performance quando utilizam as suas forças, ou seja, quando fazem as tarefas de acordo com o que elas são.

Impeça um criativo de usar a sua criatividade, uma pessoa que tenha a força do humor, de utilizar seu humor, de alguém que tenha apreciação da beleza e da excelência de apresentar um projeto caprichado, ou de alguém que trabalhe bem em equipe de trabalhar com pessoas. O que acontecerá são pessoas desmotivadas e desengajadas, que muitas vezes, inclusive, entram em conflitos desnecessários simplesmente por não serem reconhecidas por quem elas são.

Vivemos em uma cultura do "gap", onde o que é valorizado é o que falta, onde somos cobrados a sermos quem não somos. Não é errado querer que alguém melhore. O que é delicado é somente olhar para as falhas.

Se nos basearmos somente nesta mudança, de valorizar e aproveitar o que as pessoas já têm de bom, já conseguiremos muitos avanços.

A ciência avançou muito no estudo das forças de caráter e seu impacto nas organizações, apresentando práticas com benefícios comprovados:

- Segundo o Instituto VIA, pessoas que utilizam suas forças no trabalho tendem a viver mais experiências positivas, melhoram seus relacionamentos e encontram propósito no que estão fazendo;

- Uma pesquisa da Gallup levantou que colaboradores que utilizam as forças são 8% mais produtivos, têm 15% menos chance de se desligarem do trabalho e 71% dos colaboradores que são reconhecidos pelos seus líderes pelas suas forças sentem-se mais engajados e energizados no trabalho.

É necessário criar uma cultura de Forças. E quando falamos em Cultura, precisamos entender que uma ação, para ser sustentável, precisa ser inserida todos os dias na organização.

O que pode ser feito para criar uma Cultura de Forças?

  1. Conheça sobre as Forças de Caráter, ensine e estimule suas lideranças a conhecerem também. O site https://www.viacharacter.org possui um teste de Forças de Caráter para você conhecer a hierarquia de suas Forças. Nós temos todas elas. É comum olharmos para o teste e considerarmos fraquezas as forças que estão lá embaixo. No teste não existem fraquezas. Todas são suas forças, apenas foram esquecidas ou reprimidas, ou neste momento você não está precisando utilizá-las, mas você com certeza já utilizou em alguma área ou em algum ciclo da sua vida.
  2. Após fazer o teste, leia sobre cada uma delas e busque entender como elas aparecem na sua vida e na vida de seus liderados.
  3. Dos papéis que você desempenha, procure saber qual você desempenha melhor. (provavelmente existe uma força operando aí). E o que precisa de ajuste, procure entender como você pode utilizar uma força sua (de preferência a que estiver entre as 5 primeiras), para tornar a atividade mais leve para você.
  4. Valorize as forças em seus liderados e investigue com ele como ele pode utilizá-las cada vez mais;
  5. Promova diálogos sobre as forças para que os colaboradores aprendam mais sobre elas;
  6. Treine seus colaboradores e faça com que eles conheçam as suas forças e as forças dos outros;
  7. Estimule e insista na cultura das forças na empresa. Não é na primeira vez que as pessoas vão entender.

Existem outras estratégias que podem ser aplicadas nas organizações. Mas acredito que com este pacote básico que te passei, você já começará a entender, na prática, a importância e a diferença que elas fazem na rotina corporativa.

Atenção às últimas dicas e exemplos para você poder entender melhor:

As forças nos definem. É comum não enxergarmos aquela força como força, pois é muito natural para nós. Às vezes até caímos na armadilha de exigir que todos tenham aquela força. Neste ponto, podem começar os conflitos. Vou me usar como exemplo aqui: a minha força da prudência está lá embaixo na escala de forças. Eu me jogo nas coisas, não costumo fazer uma análise do terreno quando gosto de alguém ou quando me envolvo em novos projetos; quero colocar logo as minhas ideias no mundo e não fico muito tempo no planejamento. Tenho alguém da minha família que tem a prudência como força número 1. E enquanto eu me jogo, ela tenta me segurar, para o meu bem. Quando conheci a linguagem das forças, aprendi melhor a lidar com a prudência dela e entendi que ela me julgava pelas minhas escolhas por não entender que eu estava sendo movida pelas minhas forças, e não pelas dela.

Por outro lado, este mesmo exemplo de forças me trouxe feedbacks incríveis de alguns clientes meus que têm a prudência como uma de suas primeiras forças. Diziam que se inspiravam em mim, que queriam ser menos prudentes. Lógico que fiquei feliz em saber que alguém se inspirava em mim, mas também os ajudei a encontrar um equilíbrio e a ver o lado bom da sua força da prudência.

Falando em equilíbrio das forças, super utilizar e sub utilizar as forças pode trazer consequências. Às vezes nos apaixonamos tanto pela nossa força (no meu caso, a criatividade), que nos excedemos em seu uso. Sempre que você sentir que está fazendo mal a você ou a outra pessoa, você pode estar utilizando a força em desequilíbrio (para mim, traz muita ansiedade o super uso da criatividade). O ideal é o ótimo funcionamento da força, quando ela traz benefícios a você e ao outro.

Outro exemplo é de um cliente que tem a generosidade como sua primeira força e ocupava um cargo de liderança. Seus pares e seus chefes sempre diziam que ele era "bonzinho" demais. Conhecendo as forças, ele percebeu que não precisava parar de ser assim e que para um líder isso era importante. Mas que precisava apenas dosar a sua generosidade e aprender a ser firme nos momentos em que houvesse necessidade. Para ele, foi uma revelação que mudou todo o seu trabalho, pois ele estava tentando ser quem não era para se encaixar no perfil de liderança exigido pela empresa.

Um recado final para você refletir sobre: quando valorizamos as pessoas pelo que elas são, estamos permitindo que elas existam.

Até a próxima!

 

Cintia Suplicy

Especialista em Psicologia Positiva, Certificada pelo VIA em Desenvolvimento de Times Efetivos através das Forças de Caráter.


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